domingo, 15 de janeiro de 2012

Cristianismo ou Ativismo?


“Melhor é um dia nos teus átrios do que mil noutro lugar.” Salmo 84:10a

Muita gente tem invertido o sentido deste verso e dado uma interpretação não muito correta para o que ele significa. Acham que o simples fato de estar permanentemente na igreja e envolvido com as suas atividades, significa um cristianismo autêntico. Muitas vezes acabam por entrar em um ativismo extremado com uma grande preocupação em agradar as pessoas, o pastor, a juventude, a denominação e acabam por se esquecer do que é mais importante. Para abordar esta questão quero utilizar como referência o ensinamento do próprio Jesus.

Em Mateus 6:1-21 depois de trabalhar alguns temas que envolvem relacionamentos do cristão, Jesus inicia esta parte do seu sermão falando sobre qual deveria ser o objetivo de cada cristão em qualquer atividade que realiza: agradar a Deus.

Nos versos de 1 a 18 do capítulo 6 de Mateus, Ele vai abordar este assunto utilizando como exemplo as três coisas que identificam o verdadeiro religioso daquele tempo: dar esmolas, a oração e o jejum. Para aquele tempo, o religioso “perfeito” era o que dava esmolas, fazia orações fervorosas e jejuava constantemente. Jesus vai desmascarar este ativismo religioso, ensinando que mais do que fazer todas estas coisas, era necessário entender que a motivação para elas deveria ser procurar atender as expectativas de Deus com relação a nossa vida. Para isto Ele chama a atenção para três atitudes importantes.

Não Estar Preocupado em Atender as Expectativas dos Homens

Jesus ensina que se queremos agradar a Deus, não devemos estar preocupados em agradar aos homens. Isto porque nem sempre agradar a Deus significa agradar as pessoas que estão à nossa volta.

A preocupação dos religiosos daquele tempo, a quem Jesus chama de hipócritas (cuja palavra significa ator), era que as pessoas os reconhecessem como devotos. Tanto no dar esmolas como na oração ou no jejum, a maior preocupação deles era: “o que os outros vão pensar?” Por isso gostavam de “trombetear” sempre que ajudavam outras pessoas. Quando se dirigiam ao templo para orar queriam mostrar que eram tão espirituais que não conseguiam esperar chegar ao templo, então se colocavam em locais estratégicos onde pudessem ser vistos por todos e começavam orar em voz alta. Aqueles que jejuavam procuravam demonstrar um semblante de fraqueza. Sequer penteavam os cabelos para que assim os outros percebessem que estavam jejuando. Jesus ensina que essa não deve ser a verdadeira preocupação do cristão. No verso 1 deixa isto bem claro: “Não pratiquem as vossas boas obras diante dos homens para serdes vistos por eles.”

Isto é algo com o que devemos ter muito cuidado. Se queremos agradar a Deus não devemos estar preocupados em agradar aos homens. Ele mesmo deu o exemplo disto em João 5:41: “Eu não aceito glória dos homens...”

Não Estar Preocupado em Atender as Nossas Próprias Expectativas

No verso 3 Ele vai usar uma expressão que deixa bem claro este ensinamento: “Não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita”. O que Jesus ensina aqui é que muita vezes, até mesmo inconscientemente, nas nossas atitudes estamos preocupados em agradar a nós mesmos. Fazemos boas obras, oramos, jejuamos, entregamos o dízimo, organizamos eventos, congressos, reuniões, como se através destas coisas pudéssemos nos justificar. Criamos algo como que um caderninho de créditos onde vamos anotando em nosso ego o quanto e como fizemos tantas coisas. Esta é uma das grandes armadilhas da natureza humana. A necessidade de satisfazer a sua própria vaidade e desejo. Se queremos atender as expectativas de Deus com relação a nossa vida, precisamos estar dispostos a muitas vezes enfrentarmos situações onde não satisfaremos os nossos próprios desejos. Aqueles a quem Jesus chamou de hipócritas tinham uma atitude religiosa onde procuravam justificar a sua santidade e, por isto mesmo, se julgavam superiores aos demais sendo merecedores de maior graça da parte de Deus. É justamente neste ponto que Jesus traz o seu terceiro ensinamento.

Deus Recompensa Pela Sua Graça

A vida cristã não é uma troca, um “toma lá, dá cá”. Em nenhum lugar a Bíblia ensina que o jejum ou qualquer outra atitude da parte do homem lhe confira uma garantia das bençãos de Deus. Deus não precisa de boas obras, de oração ou de jejum, congressos ou festivais. Somos nós que precisamos aprender a servir aos outros, a buscar Deus e a nos disciplinarmos para lembrar que Ele sempre deve ter a prioridade em nossas vidas. Jesus é bem claro em dizer que as recompensas que o Pai nos dá não são em momento algum fruto dos nossos próprios méritos, mas obra da sua graça. Por melhor que sejamos, por mais sincera que seja a nossa motivação, nada disso nos confere o direito de exigirmos nada, pois somos todos pecadores. Se temos direitos a alguma coisa, não são por nossos méritos, mas pelos méritos de Jesus conquistados na cruz. A maior recompensa do cristão deve ser agradar a Deus, atendendo as expectativas que Ele tem com relação a nossa vida, trazendo alegria ao seu coração. Mas Jesus ensina que Ele é Pai e que nos vê em secreto, ou seja, nos conhece melhor que nós mesmos e sabe tudo quanto necessitamos (Salmo 139: 7-10). Por obra da sua graça e amor Ele nos recompensa. “Aquele que nem mesmo a seu próprio filho poupou, antes o entregou por todos nós, como não nos dará com ele todas as coisas”. (Rom 8:32)

Mas você pode estar pensando: “Então é melhor não fazer mais nada na igreja, ou na juventude”! Calma, não é bem assim. Para não passar a falsa impressão que o que Ele estava ensinando era que não se fazia necessário trabalhar na obra de Deus, nos versos 18 a 21, Jesus ensina que se queremos agradar a Deus, precisamos investir em coisas eternas e não passageiras.

Não havia a menor segurança no mundo antigo. Os bens que as pessoas possuíam eram alvo fácil para os agentes destruidores como a traça, a ferrugem, as pragas e os ladrões. É neste contexto que Jesus diz que o homem não deve ajuntar para si tesouros na Terra. Deve ficar bem claro que Jesus não está falando que o homem não possa ter propriedades, ou desfrutar das coisas boas que Deus criou, ou até mesmo economizar para dias piores, o que a Bíblia até mesmo incentiva – Pv 6:6. O que Ele quer que os seus discípulos aprendam, é que vale a pena investir a vida nas coisas de Deus, mas da forma correta.

Fincando Bem as Raízes

É interessante perceber como é comum quando olhamos para uma árvore, darmos sempre mais importância aos frutos do que as raízes. Isto acontece porque os frutos chamam atenção pela sua beleza, e normalmente ocupam uma posição privilegiada, enquanto que as raízes além não ter qualquer atrativo visual, geralmente estão abaixo da superfície. O interessante de tudo isto é perceber a importância de cada um cumprindo o seu papel para o resultado final. Quanto mais profundas as raízes, melhores serão os frutos.

Esta é a orientação e promessa de Deus através do profeta Isaías ao rei Ezequias a respeito do povo (II Reis 19:30). Ele deveria a partir daquele momento ter a preocupação não somente em “produzir frutos”, mas também em aprofundar suas raízes.

No mundo em que vivemos somos tentados a investir somente naquilo que os outros podem ver, nos resultados, na produtividade. Muitas vezes a nossa vida é dominada pelo ativismo e pela superficialidade e o que normalmente ocorre é que os “frutos” que são produzidos não tem boa qualidade, isto quando ela é frutífera (ver Mateus 13:1-23).

O que Deus espera de nós é que estejamos investindo nossa vida, nosso tempo, nossos dons e tudo o mais que Ele nos tem concedido, não somente em produzir frutos, mas também em aprofundar as nossas raízes Nele. Isto vem através da oração, do estudo da Bíblia, de uma vida íntegra em busca da santificação. Sem dúvida isto não é algo que os outros vão apreciar ou fará com que sejamos reconhecidos, mas com certeza, os frutos que produzirmos a partir daí serão de boa qualidade, duradouros e reconhecidos como aqueles produzidos pelo próprio Deus em nós e através de nós. O próprio Jesus nos afirma isto no Evangelho de João 15:5: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto”.

Se você almeja ter uma vida autenticamente cristã e não ser um mero ativista religioso, lembre-se sempre que quanto mais profundas as suas raízes, mais visíveis serão os seus frutos. Invista nisso e você verá a diferença.

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